terça-feira, 1 de dezembro de 2009

O fim último da vida


"Não tenho filhos e tremo só de pensar. Os exemplos que vejo em volta
não aconselham temeridades. Hordas de amigos constituem as respectivas
proles e, apesar da benesse, não levam vidas descansadas. Pelo
contrário: estão invariavelmente mergulhados numa angústia e numa
ansiedade de contornos particularmente patológicos. Percebo porquê. Há
cem ou duzentos anos, a vida dependia do berço, da posição social e da
fortuna familiar. Hoje, não. A criança nasce, não numa família mas
numa pista de atletismo, com as barreiras da praxe: jardim-escola aos
três, natação aos quatro, lições de piano aos cinco, escola aos seis,
e um exército de professores, explicadores, educadores e psicólogos,
como se a criança fosse um potro de competição.

Eis a ideologia criminosa que se instalou definitivamente nas
sociedades modernas: a vida não é para ser vivida - mas construída com
sucessos pessoais e profissionais, uns atrás dos outros, em progressão
geométrica para o infinito. É preciso o emprego de sonho, a casa de
sonho, o maridinho de sonho, os amigos de sonho, as férias de sonho,
os restaurantes de sonho.

Não admira que, até 2020, um terço da população mundial esteja a mamar
forte no Prozac. É a velha história da cenoura e do burro: quanto mais
temos, mais queremos. Quanto mais queremos, mais desesperamos. A
meritocracia gera uma insatisfação insaciável que acabará por arrasar
o mais leve traço de humanidade. O que não deixa de ser uma lástima.
Se as pessoas voltassem a ler os clássicos, sobretudo Montaigne,
saberiam que o fim último da vida não é a excelência, mas sim a
felicidade!"

Autor: João Pereira Coutinho, jornalista.

1 comentário:

Fernanda Ferreira - Ná disse...

Olá amiga São!

Penso exactamente somo a São.

É óbvio que não são os bens materiais os que mais importam, viver e ser feliz sim.

Sabe que eu deixei a cidade há 19 anos para fugir exactamente a tudo isso.
O meu filho vivia um inferno, tinha que ficar no colégio desde as 8,15 da manhã até às 20:00.
A nossa vida era corre de casa para o emprego e do emprego para casa, um horror... sabe bem do que falo!!!
Decidimos prescindir de uma "boa vida" aparentemente, para passarmoa a ter uma vida boa, com muito menos trivialidades, bens supérfulos, mas sem dúvida que demos uma volta de 180% a passamos a ser muito mais felizes.

Beijinhos

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